O julgamento da senhora "liberdade de consciência".

Todos se levantaram em sinal de reverência quando o juiz adentrou o recinto. Apesar de cheio, o silêncio imperava em todo o tribunal. A tensão estava estampada nos rostos e poderia ser percebida até mesmo na respiração dos partícipes
Todo aquele nervosismo tinha uma explicação: o julgamento era o estágio final de incontáveis batalhas - todas improdutivas e penosas.
O advogado de acusação se ergueu, dirigiu um olhar intimidador para a senhora Liberdade de Consciência e voltando-se para o juiz disse:
– Meritíssimo, a história dessa senhora é longa e prolixa. Todos aqui, de alguma maneira, e em algum nível, já experimentaram o poder devastador dessa mulher. Todavia, tentarei ser breve.
Ergueu o queixo num olhar elevado, respirou fundo para trazer mais peso e suspense à fala que se seguiu:
– Há séculos essa figura tem causado problemas para um convívio equilibrado e controlado em todas as nossas igrejas. Quando discutimos, geralmente alguém a cita para justificar práticas dissonantes. Aqueles que bebem, por exemplo, dizem que, depois que a conheceram, foram liberados para tal prática dissoluta. Alguns seguimentos do cristianismo reconheceram tanto sua importância que, pasmem, para nossa completa indignação e repúdio, ela foi tema em confissões de fé.
            Nova pausa dramática. A despeito dos seus 1,50m, José Severo olhava para todos de cima para baixo. Seu olhar corria por cima de todas as pessoas. Continuou:
– Caso o senhor não saiba, ela é a progenitora do conhecido Subjetivismo. Logo chegará a hora de também julgá-lo. Ah, certamente chegará! Contudo, acreditamos que com a condenação de sua mãe, ele não voltará a atacar nosso reduto. Vou ser direto: Acreditamos que somente com a morte dessa, dessa... dessa... e gritou:  – Dessa depravada! Somente com a morte dela, teremos uma igreja uniforme; onde não há espaço para diferenças; onde todos tem o mesmo gosto, onde todos seguem a mesma cartilha, onde cada detalhe é levado a sério, ou seja, onde todos são cópias idênticas. Ora, todos sabem que essa senhora faz da Ekklesia de Cristo uma grande confusão.
            Nova pausa. Silêncio... Caminhada a passos lentos. Com o olhar voltado para o chão e em tom suave e pausado disse:
– Hoje eu sou o representante do equilíbrio, da prudência e da paz.
Olhando para o juiz apelou:
– Meritíssimo, como representante do grande Partido dos Coadores de Mosquito queremos a morte da senhora Liberdade de Consciência. Ela é uma ameaça a todos os ideais de nossas igrejas. Com ela, tudo aquilo que consideramos padrão simplesmente não subsiste. Aqui findo minha fala.
O advogado de defesa levantou-se lentamente. O silêncio era tal que se podia escutar o palmilhar de sua caminhada em direção ao juiz. Em tom ameno iniciou sua fala:
Meritíssimo quero começar com um esclarecimento. A filha da senhora Liberdade de Consciência não tem causado nenhum problema à Ekklesia de Cristo. Ela é confundida com o filho; digo, filho, não filha, da senhora Graça Barata, o Subjetivismo.
Ora, respeite-nos! – interrompeu bruscamente advogado de acusação, Não me venha encher com seus detalhes irrelevantes e mentirosos. Aqui está a fotografia de Subjetividade e Subjetivismo, são ou não são as mesmas pessoas meritíssimo?
            O juiz tomou as duas fotos, ergueu a sobrancelha direita, pressionou um lábio contra o outro e disse em tom estoico:
Não há dúvidas. São as mesmas pessoas. Observe nobre advogado que a roupa tem a mesma cor. Aliás, que cor é essa mesmo?
Cinza meritíssimo; cinza – respondeu.
O assistente do advogado de defesa sussurrou por trás:
Ele só conhece dois tons de cor: preto e o branco.
            Rupertus, o advogado de defesa, retomou a palavra:
Meritíssimo está claro que em uma imagem temos uma mulher e em outra um homem. Um tem cabelo grande e o outro curto. O que posso mais dizer para convencê-los de que não são as mesmas pessoas?
A cor da roupa é a mesma! – interrompeu o juiz deixando claro que não aceitaria refutações. E ordenou: Prossiga!
Rupertus continuou:
Quanto à senhora Liberdade de Consciência, trata-se da filha de Romanos 14 -15 com 1 Coríntios 8-10. Seus pais a conceberam e a criaram para ser uma grande aliada da Ekklesia de Jesus. Diferente de Israel, a Ekklesia é um povo multicultural onde a variedade de referentes e valores é assombrosa. Ela é simplesmente essencial ao grande povo de Deus. Sem ela não temos paz. Quero lembrar a todos que ela não trabalha só. Ela é membro da equipe Unidade Bíblica. Além dela temos sua irmã Problema de Consciência, a Palavra e o líder do grupo, o Amor.
Enquanto discursava Rupertus percebeu que o juiz olhava para o nada em sinal de desprezo. Porém, continuou:
O trabalho deles é essencial para unidade do povo de Deus. A coisa funciona da seguinte maneira: Em primeiro lugar, é importante entender que Problema de Consciência tem jurisdição individual. Depois, é importante lembrar que ela só conhece uma palavra, “não”. Quando as pessoas entram em contato com o cristianismo, ela geralmente se sobressai. É normal. É ai que entra em cena a Palavra. Ela leva os cristãos fracos e infantis à Liberdade de Consciência e sua subsequente paz. Nesse processo as pessoas passam de um estado de fraqueza ou falta de firmeza para uma condição de força e convicção. O leite forte da Palavra dá força para a caminhada. Diferente de Problema de Consciência, Liberdade de Consciência tem um discurso maior. Toda sua fala é ancorada na Palavra. Além disso, ela tem o poder de dizer “sim”.
E o Amor? Perguntou o juiz.
Ah, o Amor! Poderia passar a vida inteira falando dele. Afinal, ele é eterno. Mas pensando especialmente na peregrinação, partindo da fraqueza até chegar à convicção, o Amor impede a chegada de uma doença grave que assola todos que escutam Palavra constantemente – a soberba. Esse vírus assola muitos no caminho rumo à firmeza. Muitos chegam à firmeza completamente infectados. Com doses de humilde, Amor garante imunidade dos ataques de soberba e, por conseguinte, garante a unidade. Sem Amor, os irmãos fracos seriam desprezados pelos fortes e os fortes julgados pelos fracos.
Conheço o Amor, gente boa, bom amigo! – disse José Severo.
Se o senhor está se referindo ao seu parceiro, – interrompeu Rupertus, – Quero informá-lo que não são as mesmas pessoas. Refiro-me ao Amor, não ao Amor Próprio. Acho que são seus óculos. O senhor e todos que compartilham de suas convicções estão sempre confundindo pessoas. Há pouco tempo, um dos seus amigos confundiu o senhor Prudência com o senhor Covardia.
            Voltou-se para Liberdade de Consciência:
Minha cliente tem sido acusada injustamente. Todo seu trabalho é realizado em equipe. Julgá-la sozinha é uma grande injustiça. O problema é que nem todos os que têm a convicção que ela oferece se alimentam do leite dado pela Palavra – que é sua parceira. Esses, por sua vez, têm suas convicções vindas de Problema de Consciência. Ora, Problema de Consciência nunca teve o propósito de gerar convicção – isso é injusto. Só Palavra, com seu leite poderoso, é que têm essa força. Só o leite de Palavra pode levar as pessoas à carne. Ora, convicção gerada por Problema de Consciência, sem Palavra e sem Amor é…
O senhor me considera um fraco ou um forte nobre oponente? – José Severo interrompeu novamente.
Acho que o senhor e o todo Partido dos Coadores de Mosquito estão em outra categoria. Penso que se consideram fortes, mas também não são fracos. Voltando para o Juiz disse: Meritíssimo, para esclarecer essa questão chamo o grande teólogo de Genebra, o pastor João Calvino.
            O juiz bocejou e assentiu ao mesmo tempo. A figura frágil, lânguida e encurvada que entrou no recinto despertou olhares descrentes. “Esse homem magro e destituído de toda beleza traria alguma colaboração para toda essa discussão?”, pensavam. Sua imagem não revelava quem realmente era – um homem com memória privilegiada, conhecimento vasto da cultura, um profundo conhecedor da Palavra, escritor e pastor. Muitos o viram como doente – no que estavam certos.
Reverendo João Calvino, até aonde sei, o senhor entende que nessa questão envolvendo a senhora Liberdade de Consciência, não existem somente fracos e fortes. Se há um terceiro elemento como o senhor propõe (e creio); quem seria?
            Com uma das mãos Calvino abraçou e acariciou seu longo cavanhaque. Tirou seu capuz e disse com voz forte:
– Antes de qualquer coisa, alguns esclarecimentos precisam ser feitos. Primeiro, trata-se de um assunto de grande importância. Sem o entendimento correto dessa temática não haverá repouso ou segurança para nossa consciência e não terão fim nossas superstições. Segundo, antes de ser filha de Romanos 14-15 com 1 Coríntios 8-10, senhora Liberdade de Consciência é filha da Cruz. É com essa senhora que temos paz com Deus e com os homens. Terceiro, não podemos esquecer que estamos lidando com questões indiferentes – adiáforas.
Vinho não é uma questão indiferente! – gritou José Severo. Enquanto apontava e meneava o polegar em direção à boca, em tom de deboche disse: Até onde sei o senhor é um consumidor de vinho.
Em nenhum lugar a Escritura proíbe ao homem rir ou fartar-se ou adquirir novas propriedades ou deleitar-se com instrumentos musicais ou beber vinho. Agora queria continuar minha exposição.
Visivelmente irritado voltou-se para o povo:
Existem dois tipos de escândalos: os causados e os supostos. Sem essa distinção não poderemos ter vida tranquila com a senhora Liberdade de Consciência. Coisas necessárias, por exemplo, devem ser realizadas sem medo de causar escândalo. Agora, se alguém, por leviandade, intemperança ou temeridade indiscreta, em tempo ou lugar inoportuno faz alguma coisa que escandalize um fraco, sim, podemos dizer que esse escândalo foi causado. Por outro lado, existem pessoas que por malícia e rigor deplorável estão sempre caçando o que morder e censurar. Esses não são vítimas de escândalo. Eles supõem o escândalo, mas na realidade não foram causados. São fariseus, não fracos. Essa última frase foi proferida enquanto olhava para José Severo.
Fale-nos um pouco sobre a senhora Liberdade de Consciência pediu Rupertus.
Alguns não sabem lidar com ela. Isso é um fato. Uns acham que devem exibi-la o tempo todo. Nossa amizade com ela é necessária, mas deve ser administrada com o cuidado suficiente para não desprezar os fracos. Muitos, depois que a conhecem, causam tumultos em seu nome. Contudo, quando ouvimos seu líder, Amor, aprendemos a descosturar sem romper com violência. Ora, ela nos liberta não somente para fazer, mas também para abster-se. A lógica é simples: coisas indiferentes devem ser consideradas indiferentemente. Voltemos para o terceiro elemento – o fariseu. Quanto a ele, Amor é claro: Devemos atentar para a ignorância dos nossos irmãos e não para o rigor farisaico dos Coadores de Mosquito.
Então, até aonde entendi, nobre pastor, as acusações feitas à minha cliente são fruto de convicções não geradas pelo leite e a carne da Palavra e sem a presença de Amor. Até aonde sei, os dois já foram condenados por esse mesmo tribunal.
Devemos evitar Liberdade de Consciência porque ela choca as pessoas, escandaliza as pessoas. Isso é desprezar o Amor – José Severo interrompeu rudemente.
            Calvino, que tinha propensão natural para irritabilidade, retrucou firmemente:
Na verdade, manter pessoas, sem convicção gerada por Palavra, só mostra o quanto desprezam o Amor. O senhor age como forte querendo preservar o fraco, mas sua convicção não vem da Palavra. Fraco, porém, o senhor e toda sua corja não são. Nessa questão envolvendo essa nobre senhora, obedecemos ao Amor de duas maneiras. Ou você, como forte, cuida do fraco o acolhendo e dando o leite da Palavra ou você, como fraco, não julga o outro enquanto não tiver a força que o leite de dá. Olhe para você! Olhe para sua alma! Não vê que não pode alimentar ninguém? Seu alimento não pode dá força aos outros; você não consegue nem alimentar a si próprio. O leite que o senhor bebe é de Problema de Consciência. Ele tem sua função por um tempo, porém quando dado aos outros ou quando passa sua validade, é aguado. Aliás, não somente é aguado, é tóxico. Em suma, o senhor é o que chamo de fariseu. Respondendo a pergunta de Rupertus; nessa matéria existem três tipos de pessoas: os fracos, os fortes e os fariseus.
Mas… – José Severo  quis interromper, porém sem sucesso.
Ainda não terminei. Olhando no fundo dos olhos de José Severo foi enfático: Alguns, como o senhor, fingem seguir o exemplo de Paulo abstendo-se da amizade com a senhora Liberdade de Consciência, não porém no interesse de seu líder Amor, mas, visando sossego e tranquilidade, gostariam de matar essa nobre senhora. Contudo, a verdade é que a senhora Liberdade de Consciência é mais lícita e necessária, digo, necessária, para a edificação dos nossos semelhantes do que restringi-la para o bem deles.
Gritou um homem no meio do povo:
Amém! Minha consciência está cativa à Palavra!
Rupertus olhou para seu assistente para tentar entender o que estava acontecendo ou quem tinha proferido aquelas palavras.
Foi Lutero – sussurrou o assistente.
Já desconfiava. Retomando o tom aberto de sua fala, Rupertus disse:
Obrigado senhor Calvino, o senhor ajudou muito. Excelência, queria chamar o senhor Escândalo.
O pequeno e quase invisível homem entrou rápido e logo estava diante de Rupertus, que o interrogou:
O senhor é constantemente acusado pelo Partido dos Coadores de Mosquito de atacar seus membros com a ajuda dessa senhora. Isso é verdade senhor Escândalo?
– Não. O problema com esse grupo é que estão sempre confundindo as pessoas. Eles confundem Subjetividade com Subjetivismo; Legalismo com Espiritualidade. Sou mais uma vítima dessa confusão tão comum entre eles. Eles constantemente me confundem com meu irmão, o Desagrado. Sempre que as pessoas são vítimas dele; levo a culpa. O problema com essa troca de identidade é que minha fama de derrubar pessoas da fé está se perdendo. Se é para ser culpado de alguma coisa, que seja da queda de um cristão sem convicção, não de um desconforto fruto do egoísmo e do rigor farisaico. Quando Jesus e Paulo falaram de mim, minha fama correu o mundo. Fiquei conhecido como aquele que destrói a fé das pessoas fracas, que espanca consciências frágeis e atrapalha a divulgação do Evangelho. Hoje, quando as coisas não estão do jeitinho que as pessoas esperam, elas dizem que foram atacadas por mim. Tudo isso começou com esses caras que o pastor João Calvino corretamente denominou de fariseus. Para dar peso às suas acusações, me culparam. Quando me culpam aparentemente estão seguindo as palavras do apóstolo Paulo que corretamente alertou do perigo que sou para a Ekklesia de Cristo. Assim, quando eles julgam alguém que foi alimentado pela Palavra e está convicto, dizem que foram atacados por mim. Não sou amador. Fui feito para derrubar. É isso que faço. Podem me condenar por atrapalhar o Evangelho, mas não quero ser responsabilizado pelo julgamento desses caras.
Que tipo de pessoa o senhor derruba ou atrapalha? Perguntou Rupertus.
Fracos e descrentes. Fariseus não são derrubados por mim, eles tropeçam em mim – o que é bem diferente. Lembrem-se de Jesus. Ele viveu em companhia de uma corja de pecadores e ofereceu seu amor às mulheres de má fama, contudo ele nunca me permitiu atacar ninguém em todo seu ministério. As pessoas é que tropeçavam em mim.
Tenho uma curiosidade. O senhor já fez algum pastor tropeçar?
Sim! Mas isso é raro. Pelo menos deveria ser. Não podemos esquecer que pastores não podem ser fracos. Raramente os ataco. Eles, sim, é que me atacam. Em sua grande maioria são fariseus. É simples de entender. Muitos pastores não são amigos de Palavra. Como são figuras que devem passar firmeza, devem buscá-la em algum lugar. Muitos têm buscado na dupla Tradição dos Homens e Firmeza sem Fundamento. Agora, imaginem só que mistura explosiva: firmeza sem Palavra. O pior é que no Partido dos Coadores de Mosquito essa condição não somente é real, ela já cristalizou.
Não tenho mais nada a dizer excelentíssimo.
Palhaçada! Grande palhaçada! – José Severo levantou–se enquanto gritava e batia palmas lentamente –, Acabamos de ver a apresentação dos palhaços Rupertus, seu escudeiro João Calvino e o anão de jardim Escândalo também conhecido como pedregulho. Voltando a um tom afável disse: Pelo amor de mim mesmo, vamos ouvir alguém sério. Excelentíssimo! Queremos ouvir Tradição dos Homens.
            Era um homem grande a ameaçador. Provocava sentimentos díspares. Alguns sentiam segurança, outros o odiavam.
Nobre Tradição dos Homens, em primeiro lugar, quero declarar publicamente todo meu apreço e adoração. Para nós do Partido Coadores de Mosquitos sua palavra sempre tem maior valor. Quando temos divergências, ouvimos a tua voz e tudo se resolve. Ora, quem há de proferir qualquer palavra contra ti? Somos o que somos por sua existência. Curvou-se em sinal de adoração. O senhor conhece aquela senhora de cinza? O que senhor tem a nos dizer sobre ela?
Dirigindo seu olhar firme e austero a todos respondeu com uma voz forte enchendo todo o recinto:
Liberdade de Consciência foi minha amiga por pouco tempo. Simpatizei com ela, mas não suportei por muito tempo. Ela só queria trabalhar em equipe. Dizia que era da sua natureza. Que absurdo! – gritou. Respirou fundo e continuou em tom ameno: – Foi então que descobri que ela tinha uma vizinha chamada Firmeza Sem Fundamento. Foi amor à primeira vista. A empatia foi extremamente produtiva. Tivemos um filho, o Legalismo. Para nosso orgulho, sua importância é tal que, mesmo sem ter morrido, já é nome de cidade. Eu e Firmeza Sem Fundamento escrevemos muitos livros juntos: Só Nós Estamos Certos foi o primeiro. Depois veio o Estudar é um Perigo. Mas fiquei conhecido mesmo com Buscai Em Primeiro Lugar a Uniformidade. O mais vendido foi Minha Facção é Assim e Vai Ser Sempre Assim – um tratado sobre firmeza. Todos são clássicos do Partido Coadores de Mosquitos. Estamos agora escrevendo um novo, cujo título é O Que Nos Separa Vale Mais Do Que O Que Nos Une.
– Não se esqueça de A Liberdade de Consciência é Uma Ameaça – disse José Severo.
Claro! Como poderia esquecer?! – expressando um leve sorriso de canto.
– Não tenho mais nada a dizer! - disse José Severo  enquanto apertava a mão de Tradição dos Homens.
A palavra está com o advogado de defesa – declarou o juiz.
– Não vou fazer pergunta alguma. Apresentarei simplesmente uma leitura de sua história pessoal. Caso discorde, estou aberto às suas colocações. Certamente elas serão importantes para esse julgamento. A realidade é a seguinte: Seu primeiro problema foi que, em determinado momento, não suportou o silêncio de sua antiga amiga, a Palavra. Você queria que ela dissesse “não” enquanto ela ensinava que, em si, as coisas que você queria proibir categoricamente não eram pecado. Percebeu que o que ela oferecia era muito maior do que você imaginava. Ficou chateado quando Palavra te chamou para o canto e foi direta:pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável”. Você não conseguiu digerir essas palavras.
Tradição dos Homens olhava para Firmeza Sem Fundamento. A despeito da ausência de palavras, havia comunicação clara entre eles. O advogado de defesa estava expondo as reais razões que os uniram. Isso não era nada confortável.
Rupertus continuou:
– Outro problema foi que a incredulidade dos religiosos o acometeu. Liberdade de Consciência o perturbou porque você não creu quando Palavra lhe disse: “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster”. Não é você que mantém as pessoas na fé. E este fato o perturba. Não estar no controle o perturba. Você sofre da inquietação dos incrédulos. Foi nesse momento que Firmeza sem Fundamento entrou na sua vida. Ela te dava as restrições que a Palavra não estava disposta a dar e ao mesmo tempo oferecia um campo de segurança mais forte (na sua perspectiva, claro) que a promessa da Palavra. Então, seu discurso sobre as questões adiáforas, que antes era apenas uma coletânea de princípios, conselhos e opiniões, depois do casamento com Firmeza sem Fundamento, cristalizou-se; tornando-se um sistema canônico aonde a única palavra que Palavra poderia pronunciar era “amém”. A paz que você prega, é cara, pois é à custa da Palavra. Hoje vocês querem a morte dessa senhora porque já mataram Palavra e o Amor. Estou certo?
            O zum… zum… zum correu solto na sala. Rupertus continuava olhando fixamente para Tradição dos Homens. Este se limitou a responder com a boca semicerrada:
– Sua convicção me assusta. Firmeza sem Fundamento nunca…
– Obrigado nobre Tradição dos Homens – interrompeu José Severo, – Vossa excelência, queria chamar ao julgamento o Senhor Jack Lewis.
Rupertus ficou surpreso. “Como poderia chamar Jack?”, pensou. A incoerência dos Coadores de Mosquito não tinha limites. Porém, Rupertus lembrou que eles costumavam ler, citar e até sacralizar homens que nunca poderiam pregar em seus púlpitos e participar de sua comunhão.
            Jack era um homem calvo, pele branca e vestia paletó. José Severo não acreditou no que via: sua testemunha trazia um cachimbo. Assustado se dirigiu a seu assistente:
– Você não me disse que ele fumava!
– Acho que não conhecemos bem quem temos lido.
– Caro senhor Lewis. O senhor poderia apagar seu cachimbo? Pediu José Severo em tom nitidamente reprovador.
– Jack! Me chame de Jack, por favor! Quanto ao cachimbo, sim, poderia apagar, mas por amor ao senhor, vou mantê-lo abrasado! E não diga que está sendo atacado por Escândalo, pois consigo vê-lo na primeira fila. Sua irritação tem outra explicação.
– Ok! Senhor Jack Lewis.
– Só Jack!
– Ok! Senhor Jack, o senhor é considerado uma mente cristã privilegiada. O que o senhor diz de tudo isso?
            Jack deu uma baforada em seu cachimbo e disse:
– Vou ser direto. E por favor, não quero ser questionado em seguida. Essas serão minhas únicas palavras sobre o assunto: Uma das marcas de um certo tipo de mau caráter é que ele não consegue se privar de algo sem querer que todo mundo se prive também. Esse não é o caminho cristão. Um indivíduo cristão pode achar por bem abster-se de uma série de coisas por razões específicas – do casamento, da carne, da cerveja ou do cinema; no momento, porém, em que começa a dizer que essas coisas são ruins em si mesmas, ou em que começa a fazer cara feia para as pessoas que usam essas coisas, ele se desviou do caminho.
– Obrigado senhor C. S. Lewis. José Severo não acreditava no que tinha feito.
– Jack! Só Jack!
– Já ouvi muito. Interrompeu o juiz. Levantou-se e com ele todos os presentes.
Seguiu-se a sentença:


1. Liberdade de Consciência será morta como sua amiga Palavra e seu líder Amor. Todas as consciências estarão presas à Tradição de Homens. Ela será a base para a declaração de fé do grande Partido dos Coadores de Mosquitos. Serão somente seus gostos e suas regras.

2. Todos os pastores serão unidos não pelas verdades objetivas fundamentais como o Credo Apostólico e as bandeiras da Reforma. Todos deverão seguir o senhor Tradição dos homens. A base da nossa união serão os pormenores – coisas secundárias.

3. Romanos 14-15 e 1Coríntios 8-10 serão excluídas das Escrituras. O senhor Escândalo que antes era culpado de levar o fraco ao pecado e atrapalhar o reflexo da luz do Evangelho ao incrédulo, agora será o culpado por nossos julgamentos sem o Amor e sem Palavra.

4. Será proibida a distribuição de leite que leve as pessoas à carne. Deverá ser distribuído o leite aguado de Problema de Consciência. As pessoas deverão ser eternas crianças.

5. Seremos firmes como os fortes de Romanos 14 e carentes da Palavra como os fracos.

6. Por fim, a famosa frase de Rupertus Meldenius: “In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas” (No essencial, unidade, nas coisas duvidosas, liberdade, em todas as coisas, caridade) será banida de todos os livros. Em seu lugar colocaremos Nos pormenores, uniformidade.

E foi assim que o Partido dos Coadores de Mosquito decretou a morte da Liberdade de Consciência. Ela foi sepultada junto a Palavra e Amor no limite das cidades Legalismo e Religiosidade, pois ambas as cidades queriam seu corpo como prêmio.
Há quem diga que um dia todos eles voltarão dos mortos. Que voltem!

Mãos vazias – Spurgeon e a ordenação.

Há mais de dois anos, aqui mesmo no Arquivo R, escrevi um artigo sobre ordenação (link aqui). Essa semana, estimulado pela leitura da autobiografia de Charles H. Spurgeon (C. H. Spurgeon's Autobiography, Compiled from his diary, letters, and records, by his wife and his private secretary: Volume 1, 1898), o tema voltou a ocupar minha atenção.

Meus argumentos e minhas convicções continuam as mesmas. Aliás, as palavras do príncipe dos pregadores só as reforçaram. Antes de considerar o julgamento de Spurgeon, é importante ressaltar que sua crítica à ordenação não era direcionada ou condicionada somente a uma prática específica dos seus dias, mas a qualquer cerimônia aonde ministros de outras igrejas aprovam ou abonam determinado candidato ao ministério. Em outras palavras, Spurgeon foi contra a ordenação e, seguramente, seria contra hoje também. Ele se autodesignou “oponente” desse costume e foi categórico: “Tenho uma objeção resolvida a qualquer ordenação ou reconhecimento público” (p. 356).

Seguem algumas observações do grande pregador inglês que reforçam o artigo citado:

<1. Trata-se de uma prática perigosa. Em suas críticas à prática da ordenação Spurgeon diz: “grandes males tem começos pequenos”. Sua percepção das bases e implicações da prática o levou a vê-la não somente como uma divergência suportável e/ou inofensiva; antes, como algo ameaçador. Em uma carta de maio de 1854, ele revela que, dezenas de vezes, expressou, muito calorosamente, do púlpito, seu aborrecimento com tal prática (p. 356). São várias as razões para tanta indignação. Uma delas: os males da prática da ordenação tinham se tornado algo “essencial”. (p. 355-6). Nas palavras do próprio Spurgeon, a prática tinha se tornado uma “lei de ferro” no seu país.

<2. Ameaça a autonomia e autoridade da igreja local e extrapola os limites da autoridade pastoral. Penso serem essas as razões fundamentais para Spurgeon ver a ordenação como algo perigoso. A ordenação é baseada em um entendimento equivocado da autonomia e responsabilidade da igreja local, bem como da natureza das relações de autoridade entre os ministros. Segundo Spurgeon: “Toda igreja tem o direito de escolher seus ministros” (p. 357). Ele denomina a independência da igreja de “princípio glorioso”. Ele é muito claro ao afirmar que “a igreja é competente, sob a orientação do Espírito Santo, a fazer seu próprio trabalho” (p. 356). Para Spurgeon, a ordenação tira da igreja o trabalho que lhe devido. O que é decidido na igreja local não precisa ser complementado, afirma o pregador. Não importa se o mundo todo se opõe a decisão da igreja. Para Spurgeon, a ordenação ou o reconhecimento público nem invalida, nem reforça. Sobre a relação entre os ministros, Spurgeon entende que são e devem ser aliados, entretanto, nenhum tem autoridade no território do outro. Spurgeon entendia a prática da delegação de poderes de “ministros para ministros” como renovação da sucessão apostólica (p. 357). Não que Spurgeon rejeitasse a autoridade dos seus colegas. Ele entendia que o reconhecimento da escolha da igreja por outras igrejas e seus ministros era um “ato fraterno” – mas, somente isso, nada mais. Ele também reconheceu que há superioridade de um ministro para o outro, porém, em piedade, nunca ex officio. Quanto à autoridade ex officio de um ministro sobre o outro, claramente revelada e reforçada em cerimônias de ordenação, Spurgeon era direto: “nenhum homem é meu superior” (p. 357).

<3. Cria uma nova classe de ministros e/ou pessoas. Spurgeon percebeu essa questão observando os remetentes das cartas. Ele notou que os nomes dos seus alunos seguiam o tratamento “reverendo” enquanto o seu não. Diante disso, Spurgeon afirmou: “Here are reverend students of an unreverend preacher (p. 355).

Spurgeon questionou as implicações dessa distinção de tratamento. Uma delas era a de que somente ministros ordenados poderiam administrar a Ceia do Senhor e o batismo. Ele denominou tal prática de “papado descarado” (cf. Sword and Trowel Volume 4, 1874, p. 111-17 [Link aqui]). Também questionou o título de reverendo. O ponto de Spurgeon é: O que tinha acontecido com esses homens que o faziam agora dignos de tamanho título? Ou, para os pastores batistas, o que aconteceu de tão importante para você receber o título de “pastor ordenado”? Ele exemplifica: um homem que por muitos anos foi pregador é normalmente conhecido por Senhor Brown, mas depois da ordenação ele evolui para Reverendo senhor Brown. A pergunta persiste: que mudança importante ele sofreu? Ele cita outro exemplo: um rapaz novo que acabou de ser colocado no púlpito é chamado de Reverendo Smith. Contudo, seu avô, que andou cinquenta anos com o Senhor e agora está no céu não tem direito a tal reverência. O que aconteceu com esse homem que o faziam agora digno do título de reverendo e seu avô não? O que lhe foi dado nesta cerimônia? Usando as palavras do grande pregador: “Para que uma imposição de mãos vazias?”. Ora, se nenhum dom é conferido, para que tal imposição? Não é atoa que Spurgeon recusou veementemente o título de reverendo. Título esse considerado por ele como um “prefixo sacerdotal” (Ibid.). Spurgeon se perguntou: de que mente surgiu tal invenção? Sua resposta é cheia de ironia e criatividade: Nós suspeitamos que ele viveu na rua romana da Feira da Vaidade (cf O Peregrino de Bunyan).


<4. A prática pode ser inconveniente. Spurgeon em uma carta revela sua chateação com os conselhos tolos das cerimônias de ordenação. Não que os bons conselhos eram ausentes, mas para Spurgeon, mesmo quando os conselhos eram sábios, eram inapropriados na arena pública. Ele afirmou estar disposto a ouvir conselhos em particular, por qualquer pessoa, sobre qualquer assunto. Mas não estava disposto a ouvir em público como deveria gastar seu dinheiro, que devia ser um bom marido e todas as observações absurdas sobre assuntos familiares e domésticos.

Findo com a citação de uma de suas pregações cujo título era A Verdadeira Ordenação do Ministro:

Nenhuma faculdade, nenhum bispo, nenhuma ordenação humana pode fazer de alguém um ministro; mas aquele que sofre, como Bunyan, Whitefield, Berridge, ou Rowland Hill, as lutas de um anseio apaixonado para ganhar almas, pode escutar no ar a voz de Deus dizendo “Filho do homem, fiz de te um atalaia” (p. 359).

Vencendo vem Jesus (edição revisada)

1 INTRODUÇÃO

A Volta de Cristo é o grande evento esperado pelo povo de Deus. No seu último contato com os discípulos, esses ouviram dos anjos: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir”. (At. 1:11). Desde então, os seguidores de Cristo o esperam.
Há, entretanto, muitos eventos esperados e/ou relacionados à volta prometida. A Bíblia fala de uma Grande Tribulação, um reino milenar, ressurreições e julgamentos. É exatamente aqui que se dá início às divergências entre os cristãos. Os desacordos são quanto ao tempo dos eventos (presente, passado e futuro), o encadeamento cronológico e a sua relação com a Vinda do Senhor Jesus.
            Este trabalho focalizará a relação da Tribulação com a Volta de Cristo. Como o Arrebatamento é uma discussão entre pré-milenistas (históricos ou dispensacionalistas), o trabalho não visa a desenvolver questões como o Milênio, seu caráter proléptico e/ou terreno; antes, todos são temas pressupostos (versus amilenistas, pós-milenistas e preteristas). Apresentaremos as três visões mais conhecidas: Pré-tribulacionismo (doravante, PR.T), Mid-tribulacionismo (doravante, MD.T) e o Pós-tribulacionismo (doravante, PO.T). Todas serão expostas e submetidas a uma análise crítica.
             
2 PERSPECTIVAS.

2.1  Pré-Tribulacionismo.

Como a própria alcunha revela, essa visão assegura que a Vinda de Cristo se dará antes da Tribulação.
Seguem seus pressupostos gerais: 1) A Tribulação: 1.1) é um período exato de sete anos referente à Septuagésima Semana de Daniel 9.27; 1.2) Um tempo sem igual em toda a história da humanidade e 1.3) futuro; 2) A vinda de Cristo é iminente. Por “iminente” entenda-se que ela deve acontecer a qualquer momento. 3) Distinção entre Israel e a Igreja[1].
A terminologia “pré-tribulacionismo” é limitada, pois todos os representantes dessa visão entendem que a Vinda de Cristo não somente se dará antes da Tribulação, mas antes e depois.
A Vinda de Cristo em duas fases é a explicação dos seus defensores para a incompatibilidade entre: 1) sinais que antecedem a Vinda, 2) a exatidão dos sete anos (fazendo da vinda de Cristo algo possível de se calcular) e 3) a iminência.
Um dos seus representantes apresenta a questão em forma de pergunta:

A linguagem bíblica ensina que o Senhor pode retornar para sua igreja a qualquer momento, ou ensina que o retorno do Senhor para sua igreja será precedido pelo cumprimento de certos eventos previstos tais como a revelação do homem da iniquidade, a grande tribulação e assim por diante?[2]

O PR.T entende que a falha em não reconhecer a distinção de uma vinda iminente e outra precedida por sinais é acusar o Espírito Santo de contradição[3]. A perspectiva pretribulacional entende fornecer a única explicação que soluciona a tensão entre esses dois fatos incompatíveis (sinais e iminência). John McArthur Jr. assegura que:

[…] esse é o único cenário [a Grande Tribulação entre duas vindas] que concilia a iminência da vinda de Cristo para os seus santos com os sinais ainda não cumpridos que sinaliza (sic) seu retorno glorioso final com os santos[4].

Tal conclusão leva os pré-tribulacionistas a declararem firmemente: “[…] nenhum sinal é dado à igreja”[5]. A Igreja, por conseguinte, não é exortada a observar sinais; antes, a olhar somente para o Senhor que virá a qualquer momento.
Assim, a vinda de Cristo deverá acontecer em duas fases – antes e depois da Tribulação. Na primeira fase Cristo virá para sua Igreja nos ares e na segunda virá com sua igreja para a terra.
O pressuposto da iminência é construído sobre passagens que asseguram que a vinda está próxima bem como sobre as exortações à vigilância. A lógica é simples: Devo vigiar porque Jesus pode voltar a qualquer momento visto estará próximo – à porta. As passagens mais citadas são: Lucas 12.39-40; 17.26-27[6]; Filipenses 4.5; Tiago 5.8-9.
A Vinda em duas fases não surge somente como uma explicação à aparente contradição entre sinais, sete anos literais e iminência. As omissões e inconsistências entre passagens que descrevem a Vinda de Cristo e o Arrebatamento também são fundamentais.
Nas passagens que lidam com o Arrebatamento as omissões são: 1) sinais e 2) referências à Tribulação. As inconsistências entre as descrições dos dois eventos são: 1) O tempo da ressurreição em 1 Tessalonicenses 4 e o referido por Apocalipse 19-20. No primeiro registro temos a ressurreição durante a descida de Cristo até as nuvens. No segundo relato temos a descida de Cristo à terra, a morte dos seus inimigos, a Besta e o falso profeta são lançados no lago de fogo, Satanás é preso e somente depois temos a ressurreição dos santos. 2) O destino dos arrebatados em João 14.3 é o céu e as passagens da segunda vinda retratam nossa permanência na terra.
Assim, devido a omissões e inconsistências, Mateus 24 e Apocalipse 19 descrevem a Segunda Vinda; enquanto João 14.3; 1Coríntios 15.51, 52 e 1 Tessalonicenses 4.13-18 são as passagens que descrevem o Arrebatamento[7].
O PR.T encontra em Apocalipse 3.10 a promessa clara e direta de que a Igreja não passará pela Tribulação. Essa é a bendita esperança do cristão – libertação da Grande Tribulação. Não se pode ser consolado incutindo na Igreja a expectativa de uma participação no período em que Deus derramará toda sua ira sobre a terra. “A razão de ser da passagem em 1 Tessalonicenses [4.18] depende da vinda do Senhor ser iminente e pré-tribulacional”[8].
O PR.T assegura que a natureza da proteção em Apocalipse 3.10 é indicada pela preposição evk. Caso João tivesse a intenção de expressar uma proteção na Tribulação, ele teria usado as preposições dia, ou evn[9]. O “guardar”, portanto, deve envolver necessariamente uma retirada física. Figuras como Noé, Ló e Raabe são usadas como exemplos de livramento. Em todos os casos, eles foram retirados antes de Deus derramar sua ira.
O ministério do Detentor em 2 Tessalonicenses também reforça as crenças do PR.T.:

“[…] a indicação aqui é que, enquanto o Espírito Santo estiver habitando na igreja, que é Seu templo, esse trabalho de detenção continuará e o homem do pecado não poderá ser revelado. Apenas quando a igreja, o templo, for retirada, o ministério de detenção cessará e a iniquidade produzirá o iníquo”[10].

Diferente das outras duas visões, o PR.T iguala Dia do Senhor com condenação e, mais especificamente, com a Grande Tribulação, que por sua vez é o mesmo que a Ira de Deus. Leon Wood é claro: “O ‘dia do Senhor’ [2 Tessalonicenses 5.2] aqui significa a Tribulação”[11].
Walvoord entende que a expressão “Dia do Senhor” “refere-se a qualquer período especial em que Deus intervém sobrenaturalmente, a fim de trazer juízo contra o mundo”[12]. O PR.T entende que o Arrebatamento marcará o terminus a quo do Dia do Senhor enquanto que o terminus ad quem será a eternidade[13]. Todo esse longo período é considerado como “o Dia do Senhor”.
A relação entre o PR.T e o Dispensacionalismo é tal que faz-se necessária uma palavra. Em primeiro lugar, pode-se chegar a conclusões pré-tribulacionistas sem os pressupostos dispensacionalistas. Por outro lado, algumas conclusões pré-tribulacionistas são resguardadas por pressupostos dispensacionalistas. A distinção entre Israel e a Igreja, por exemplo, ampara e favorece a ausência da Igreja na Tribulação. A mais nova vertente dentro do Dispensacionalismo, o Dispensacionalismo Progressivo, não considera a vinda em duas fases como indispensável ao Dispensacionalismo.

2.2  Mid-tribulacionismo.

Como o próprio nome sugere, essa visão assegura que a Igreja passará por metade da Septuagésima Semana de Daniel. Compartilha com o PO.T a crença de que o público de Mateus 24 (e paralelos) é composto dos santos no sentido usual da Igreja de Cristo, bem como a distinção entre Ira de Deus e Tribulação. Com o PR.T partilha a ideia de uma vinda em duas fases, bem como a exatidão cronológica e o caráter proléptico dos sete anos.
Erickson apresenta os dois argumentos usados pelo MD.T para reforçar que o alvo de Mateus 24 (e paralelos) é a Igreja e não os judeus somente:

1. Os Evangelhos segundo Mateus e Marcos foram escritos algum tempo depois de as epístolas terem sido escritas e circuladas. O vocabulário de Paulo e o significado que dava às palavras seriam, portanto, familiares aos crentes daqueles dias. É razoável esperar que, se o Senhor tivesse desejado dizer por “escolhidos” algo diferente daquilo que Paulo queria dizer com a palavra em passagens como Romanos 8.33, então Mateus e Marcos teriam dado alguma indicação do fato, para evitar confusão […].
2. [Jesus] Tinha o hábito de acoplar referências aos apóstolos e à igreja inteira, como na grande comissão (Mt 28.18-20), na oração sacerdotal (Jo 17, especialmente o versículo 20) […] quando Jesus anunciou, em Mateus 24.15ss, a destruição vindoura de Jerusalém, falou primeiramente na segunda pessoa (“quando, pois, virdes”) e depois, na terceira pessoa. Referiu-se aos judeus como “eles” e não como “vós”[14].

Tanto o MD.T quanto o PO.T entendem que a Ira do Senhor é distinta da Tribulação, mas ainda a ela relacionada. Na Tribulação temos a ira de Satanás, do Homem da iniquidade e do Anticristo contra o povo de Deus, enquanto que a Ira de Deus é o aspecto condenatório do Dia do Senhor cujo terminus a quo se dará no meio da Tribulação.
As razões para se entender que o Arrebatamento deve acontecer no meio da Tribulação são as seguintes: 1) A quebra do pacto pelo Anticristo se dará no meio da Septuagésima Semana (Dn. 9.27) iniciando o derramar da Ira de Deus da qual seu povo não tem parte; 2) O Arrebatamento acontece no tocar da última trombeta (Ap. 11.15). Ela marca o início da Ira de Deus, do galardão para os mortos justos (Ap. 11.18) e se dará no meio da Tribulação.
Erickson nos esclarece que a terminologia “mesotribulacionista” ou “mid-tribulacionistas” não tem origem em seus defensores. Eles costumam se auto intitular pré-tribulacionistas ou pós-tribulacionistas[15].
           
2.3  Pós-Tribulacionismo.

O aspecto principal dessa visão é que a Igreja não será retirada do mundo antes da Tribulação. Diferente das visões apresentadas acima, seus adeptos não estão certos quanto ao tempo da Tribulação. Alguns entendem que os sete anos da Septuagésima Semana, apesar de, a princípio serem literais, serão “abreviados” (Mt. 24.22); outros creem que a Tribulação é uma marca de toda a história da Igreja, não limitada, portanto, aos sete anos de Daniel. Essa última conclusão pressupõe que a Septuagésima Semana de Daniel já foi cumprida.
Como o MD.T, o PO.T defende uma distinção entre a Ira de Deus e a Tribulação. Tribulação é a ira de Satanás, do Anticristo e dos ímpios contra os santos, enquanto que a Ira de Deus é o aspecto condenatório do Dia do Senhor. Quanto ao tempo em que se dará esse Dia, Gundry assegura que “[…] não cobre toda a septuagésima semana, provavelmente nem mesmo sua última parte, mas concentra-se no fim”[16].
Três textos são usados para se entender a relação entre a Tribulação e o Dia do Senhor. São eles: 1 Tessalonicenses 5.2; 2 Tessalonicenses 2.2 e Atos 2.20.
Em 2 Tessalonicenses Paulo distingue o Dia do Senhor de eventos relacionados à Grande Tribulação. Ele assegura ser necessário que “primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição” (2Ts. 2:3). Não se afirma que os principais eventos do Dia do Senhor ainda não haviam acontecido[17], mas que eram necessárias algumas coisas acontecerem antes (prw/ton no v.3) do Dia do Senhor.
Atos 2.20 afasta o Dia do Senhor para o término da Tribulação ao afirmar que antes (pri,n) do Dia do Senhor o “sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue”. Sabemos que a vinda de Cristo é antecipada exatamente por esses sinais, que por sua vez, seguem a Tribulação. Mateus 24.29 diz: “Logo em seguida (meta,) à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados”.
Em Atos, o Dia do Senhor segue os ‘mesmos sinais que antecedem imediatamente a Vinda do Senhor em Mateus 24.30. Em 2 Tessalonicenses 2, o Dia do Senhor é uma referência ao nosso encontro com Ele e à Sua vinda (2.1). Assim, o terminus a quo do Dia do Senhor é a própria Vinda de Cristo postribulacional para lamento dos ímpios e salvação e ajuntamento dos santos. A sequência cronológica, portanto, é a seguinte: Tribulação, sinais celestiais e o Dia do Senhor. Assim, conclui-se que a Tribulação não é o mesmo que o Dia do Senhor.
O PO.T entende não haver qualquer interlúdio entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda. Diferente das outras visões, em que a Vinda de Cristo acontece em duas etapas permitindo morte entre elas e exigindo três ressurreições, o PO.T preza por duas ressurreições como descritas em Apocalipse 20.4-6.
Um texto em especial é usado tanto pelo PO.T quanto pelo PR.T: Apocalipse 3.10. Todos concordam que o texto promete proteção de Deus para seu povo no tocante à Tribulação. O desacordo fica por conta da natureza dessa proteção. A preposição evk é parte fundamental em toda a discussão.
A argumentação PO.T é a de que a semântica “posição fora” (defendida pelo PR.T) não se sustenta. Entendem que o texto deve ser apreendido não somente por um viés gramatical, mas contextual, envolvendo a declaração à luz de todo o livro. Argumentam que em todo livro de Apocalipse os “santos”, diferente dos que “habitam sobre a terra”, são guardados da sedução (tentação) e do engano (plana,w) de adorar a besta (13.8, 12, 14; 17.8) e não são atormentados pelas duas testemunhas (11.10). Deus, pois, guarda os seus da sedução e não da exposição à sedução. A promessa de Apocalipse 3.10, pois, não envolve retirada física do sofrimento. Não se é guardado da tentação estando fora dela, mas nela.
O conceito de iminência não segue os termos do PR.T, com se Cristo viesse a qualquer momento, mas entende-se que tal evento está pendente. Sobre a relação entre os sinais e a iminência da Volta de Cristo, o PO.T vê a alegada tensão como aparente e que ela está diretamente ligada ao entendimento do propósito e natureza dos sinais e da vigilância exigida dos santos.
O PO.T reconhece que, caso a Volta de Cristo se dê a qualquer momento [definição pretribulacional de iminência], teremos sim, uma tensão que poderá nos levar a contradição, fazendo da Vinda em duas fases uma solução, senão exigida, pelo menos provável. Por outro lado, revela que a tensão não é fruto de um confronto entre textos de contextos distintos como se tivéssemos, de um lado, textos que trazem sinais e, de outro, textos que enfatizam a ignorância da Vinda do Senhor. O Sermão Escatológico de Cristo apresenta tanto a iminência quanto os sinais unidos em um mesmo contexto. Contexto este em que o próprio Senhor Jesus diz “ninguém conhece o dia nem a hora”.  “Todos os intérpretes, quer creiam que o discurso é dirigido à Igreja ou a Israel, enfrentam a dificuldade de explicar como um evento apresentado por sinais específicos pode ainda ser um dos quais se diz: ‘ninguém sabe o dia e a hora’”[18].
A relação entre Jesus e Paulo também é um elemento importante para o PO.T. Diferente da afirmação PR.T de que o Arrebatamento é uma novidade dentro do progresso da revelação e que no Sermão Escatológico de Cristo temos somente a segunda fase da Segunda Vinda, o PO.T assegura que as similaridades entre Paulo e o Senhor Jesus sugerem que não há novidade no registro paulino.
Primeiro, a declaração de Paulo “ainda vos declaramos, por palavra do Senhor” (v.14) nos faz pensar que ele é dependente do ensino de Cristo em suas argumentações. Segundo, temos os elementos comuns entre os dois[19]: som da trombeta (1Ts. 4.16 comp. Mt. 24.31), presença dos anjos (1Ts. 4.16; 2Ts. 1.7 comp. Mt. 24.31), a vinda do Senhor Jesus Cristo do céu (1Ts. 4.16; 2Ts. 1.7 comp. Mt. 24.30), as nuvens (1Ts. 4.17 comp. Mt. 24.30), encontro (avpa,nthsij) com o Senhor (1Ts 4.17; Mt. 25.6), a ignorância dos “tempos e horas” (1Ts. 5.1) e “daquela hora” (24.36) com a locução preposicional peri, de,, a vinda como um ladrão (1Ts. 5.2 comp. Mt. 24.43), a repentina destruição (1Ts. 5.3 comp. com os dias de Noé (Mt. 24.39), a expressão princípio das dores (Mt. 24.8) e as dores de uma mulher grávida (1Ts. 5.3), a ordem de vigiar (1Ts. 5.6, 7 comp. Mt. 24.42), o perigo de ser encontrado dormindo (kaqeu,dw – 1Ts. 5.6 comp. Mc. 13.36), ajuntamento dos santos (1Ts. 4.13-18 comp. Mt. 24.31).

3        ANÁLISE CRÍTICA

3.1  Pré-tribulacionismo.

3.1.1        Pontos Positivos.
Com seu conceito de iminência, o PR.T conseguiu resgatar o ethos da igreja do primeiro século. Além disso, a escatologia é sempre viva nos círculos pré-tribulacionistas. Isso, por sua vez, impulsiona uma busca constante pelos referentes na simbologia apocalíptica, bem com gera uma insatisfação por respostas gerais.

3.1.2        Pontos Negativos.

Os pontos negativos que seguem sobrepujam em volume os das outras duas visões. São três as razões para tal discrepância: 1) O PR.T tem muito mais material sobre a temática do que as outras visões. Isso se dá porque os círculos eclesiásticos que adotam essa perspectiva entendem que o PR.T é o mesmo que ortodoxia. Isso acaba gerando mais material expositivo e apologético. 2) O PR.T busca resposta para todos os detalhes expondo-se muito mais às especulações e críticas. 3) Depois do advento do PR.T[20], parte da exposição PO.T se dá por meio da refutação do PR.T.

3.1.2.1  Fundamentação Obscura.

A identidade do “detentor” de 2 Tessalonicenses 2 é extremamente obscura. Sabemos que algo ou alguém impede o exercício da iniquidade. Porém, sua identidade não pode servir de fundamento para nenhuma conclusão sobre as últimas coisas. A linguagem usada por Paulo é clara somente para aos leitores primários; para nós, contudo, é enigmática e concisa o suficiente para somente especularmos.
Ainda pensando em implicações, é precipitado afirmar que a Igreja não é encontrada na terra em Apocalipse. Se o nome “igreja” não aparece no registro da Tribulação, o mesmo pode ser dito sobre o céu. A afirmação categórica de que os 24 anciãos representam a Igreja está longe de ser irrefutável e decisiva.
Sobre Apocalipse 3.10, passagens equivalentes revelam que uma retirada física ou espacial não se sustenta. Em João 12.27 temos sw,zw + evk w[ra. Aqui a semelhança não somente fica por conta da relação verbo e preposição, mas o objeto da preposição é exatamente o mesmo – w[ra. O PR.T entende que a promessa é a preservação fora de um período de tempo[21].Contudo, a ênfase cai sobre a experiência no tempo, não o período como tal. No pedido “Pai, salve-me dessa hora”, Jesus não poderia estar orando pela libertação de um período de tempo”[22]; antes, dos eventos dentro do período de tempo. Além disso, o sentido de thre,w deveria ser mudado de “proteção” para “moção”.
Por último, temos João 17.15. Feinberg declara sua significância ao reconhecer que em ambos os textos (Jo. 17.15 e Ap. 3.10) temos palavras da boca de Jesus e vindas da pena de João[23]. Para ele a situação em 17.15b (thre,w + evk) é diferente da encontrada em 17.5.a (ai;rew + evk). Na última, os discípulos estão no mundo enquanto que na primeira eles não estão no maligno. Daí o fato de que não há a necessidade de moção, mas ainda mantém a necessidade de mantê-los fora do objeto da preposição (o Maligno). Tal separação é corroborada pela visão joanina de separação entre o cristão e o reino de Satanás e por passagens como Colossenses 1.13. Moo responde com uma pergunta: “Em que sentido é significativo falar em estar numa posição fora com respeito a um ser pessoal?”[24]. Ele ainda ressalta que “Feinberg está aplicando uma frase espacial a um contexto que não pode ser entendido espacialmente[25].
A longa citação de Moo esclarece bem a questão envolvendo a preposição:

[…] ao checar as mais de novecentas ocorrências de evk no Novo Testamento, não encontraria nenhuma que provavelmente tem esse significado [posição fora]. De acordo com essa conclusão está o fato de que nenhum dos maiores léxicos do Novo Testamento apresenta “posição fora” como definição de evk. O que alguns dos exemplos citados por Townsend e Feinberg mostram é que evk pode significar separação de algo com quem nunca teve um envolvimento anterior. […] em cada uma dessas[26] o objeto de evk denota a coisa ou pessoa da qual alguém é protegido, não a esfera fora da qual se é protegido[27].

O elemento contextual não favorece o PR.T. Apocalipse 3 revela que essa “tentação” focalizará “os que habitam sobre a terra” (v.11). Há uma distinção entre o grupo dos guardados e o dos não guardados. Os que habitam sobre a terra não serão guardados. A ira de Deus é seletiva no livro de Apocalipse. Ela é direcionada somente para “os que habitam sobre a terra”. Além disso, é interessante observar que a expressão “os que habitam sobre a terra” está ligada à sedução.

3.1.2.2  Conceito Equivocado de Iminência.

Afirmar que o Dia do Senhor vem como um ladrão não é o mesmo que assegurar que ele vem sem aviso prévio[28]. Alguns entendendo que o Dia do Senhor vem quando as pessoas estiverem em “paz e segurança” (1Ts. 5.3), supõem que sua Vinda coincide com o início a Tribulação – sem aviso prévio.
Há duas razões para rejeição de tal conclusão: 1) A própria natureza do Dia do Senhor. Esse dia é marcado por sinais que o antecedem (cf. At. 2.20; 2 Ts. 2). 2) Gundry[29] nos alerta que Paulo não está descrevendo como realmente serão os dias, mas revela o querer e a expectativa das pessoas. Elas “andarão dizendo” como nos dias de Jeremias: “Paz...paz” (Jr. 6.14; 8.11).
O texto, na verdade, fala indiretamente de sinais. O ponto é que o ser humano não vai dar atenção, pelo contrário, pronunciará a paz a despeito dos sinais. O Senhor virá como um ladrão devido à cegueira dos que vivem nas trevas. Nas palavras de Paulo: “não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa”.
Consideremos as palavras gregas usadas para espera/expectativa e proximidade de Cristo. Nenhuma delas exige iminência nos termos do PR.T.

1.      prosde,comai, “esperar” (Lc. 12.36; Tt. 2.13). A mesma palavra é usada para descrever as ressurreições dos justos e injustos em Atos 24.15 com um intervalo de um milênio entre elas (Ap. 20).
2.      avpekde,comai, “aguardar”, “esperar ansiosamente” (1Co. 1.7). “A palavra não pode implicar iminência em Romanos 8.19, porque lá Paulo escreve que a criação física espera ardentemente a revelação dos filhos de Deus”[30]. Pedro usa o mesmo vocábulo para se referir à longanimidade de Deus no contexto do dilúvio (1Pe. 3.20). Claramente o dilúvio não foi iminente. A arca deveria ser construída antes.
3.      evkde,comai, “aguardar”, “esperar”. Em Tiago 5.7 a analogia do agricultor, usada pelo irmão do Senhor, que espera com paciência (makroqume,w) descarta a ideia de uma vinda a qualquer momento. Nas palavras de Gundry, “Dificilmente podemos encontrar um uso tão anti-iminente”[31].
4.      prosdoka,w, “esperar”(Mt. 24.50; Lc. 12.46). É a mesma palavra usada por Pedro em sua segunda carta para espera dos novos céus e nova terra (3.12).
5.      nh,fw, “ser sóbrio”, “livre de excesso”, “domínio próprio”(1Ts. 5.6, 8; 1Pe. 1.13; 4.7). Não é o mesmo que vigiar, mas ter um caráter e uma mente sóbria.
6.      evggu,j, “próximo”, seus cognatos e a expressão “está à porta”. Em Filipenses 4.5 a expressão “o Senhor está próximo” pode se referir à proximidade de Deus enquanto Seu cuidado providencial. Caso tenhamos uma referência à Segunda Vinda, a ausência dos sinais se dá simplesmente porque não é o propósito de Paulo apresentar detalhes escatológicos. Em Mateus 24.33 e Marcos 13.29 a proximidade se dá depois dos sinais referidos pelo Senhor. evggu,j é usada para descrever a proximidade das festas judaicas (Jo. 2.13; 6.4; 7.2; 11.55) e sua forma verbal se relaciona ao fim de todas as coisas (1Pe. 4.7). A proximidade da vinda de Cristo, pois, não implica em iminência.

São duas as palavras usadas para admoestações à vigilância: gregore,w e avgrupne,w (Mc. 13.33; Lc. 21.36). A última significa “sem sono”, “acordado”, “vigilante” e é usada para vigilância espiritual de forma geral (Ef. 6.18). O mandamento em Lucas 21 é “acordar” em contraste com o “dormir”. Em Marcos o mandamento está em paralelo com a oração e em Lucas a oração está subordinada (particípio) ao orar. Os que dormem espiritualmente (não vigiam), portanto, não escaparão do julgamento associado à vinda do Senhor.
grhgore,w significa “estar acordado”. Como com avgrupne,w, ela é usada para o estado de alerta da vida espiritual (At. 20.31). Em 1 Coríntios 16.31 o “vigiar” está em paralelo com “permanecer firme na fé”. Em Colossenses 4.2 é na oração e em ação de graça que vigio. Em 1 Pedro 5.8,9 está em paralelo com “permanecer firme”. É usada por Cristo, no Getsêmani, ligada à oração e ao permanecer literalmente acordado (Mt. 26.38, 40, 41). Em Apocalipse 3.2, 3 não temos uma referência à Volta do Senhor, mas sua visitação com julgamento. Novamente o alerta é contra a letargia espiritual.
Relacionada à volta do Senhor temos nove ocorrências. Dessas, uma é uma exortação paulina (1Ts. 5.3-5), e o restante se encontra nos ensinos do Senhor. Quanto a 1 Tessalonicenses 5, a questão não é o Arrebatamento, mas o Dia do Senhor. O contexto deixa claro que a Vinda não é percebida, não por ausência de sinais, mas por cegueira espiritual. Estar vigilante é estar espiritualmente acordado em contraste com o mundo em trevas e sono. Além disso, segundo 2 Tessalonicenses 2, alguns sinais precedem o Dia do Senhor. Isso faz com que vigilância não implique necessariamente numa Vinda iminente. Se há iminência aqui (1Ts. 5.3-5) é para os que vivem nas trevas – os que não esperam.
Sobre Apocalipse 16.15 Ladd nos ensina que “o que quer que isso signifique, não pode envolver um retorno de Cristo inesperado, secreto e a qualquer momento”[32] visto que o contexto é o derramar da ira de Deus no final da Tribulação.
Nos ensinos do Senhor a palavra é usada duas vezes em Lucas 12. 37, 39 (paralelo Mt. 24.43ss) e cinco vezes no Sermão das Oliveiras. Aqui a palavra é associada com a incerteza do tempo da Vinda do Senhor. Ladd alerta para o fato de que vistas fora do contexto, essas passagens podem dar a impressão de uma vinda sem sinais que indicam sua proximidade. Porém, qualquer pré-tribulacionista reconhece que a Volta do Senhor no Sermão Escatológico é postribulacional (Mt. 24. 27-28). Os versos 29-31 ampliam a descrição do v.27 e o restante são passagens que trazem aplicações espirituais. Agora, se Cristo nos chama a vigiar uma vinda secreta, devemos concluir que Ele nos exortou a vigiar um evento do qual ele mesmo sequer faz referência. Mesmo que os pré-tribulacionistas aleguem que essas palavras são direcionadas aos judeus, o problema continua. Ladd explica:

Se os pré-tribulacionistas podem aplicar a qualquer pessoa o mandamento de vigiar no meio da Tribulação, cujo fim pode ser aproximadamente conhecido, então eles não podem questionar a aplicação dessas mesmas exortações à Igreja na base de que é impossível ao crente vigiar um evento cujo tempo pode ser aproximadamente conhecido[33].

“É por causa da incerteza do tempo, não da sua iminência, que nós devemos vigiar”[34]. O ponto não é que Cristo pode vir a qualquer momento, mas que eu não sei exatamente quando se dará, mesmo conhecendo os sinais que o antecedem.
Lucas 12.22ss nos alerta para o fato de que “vigiar” envolve conduta, comportamento e serviço. “Vigiar” envolve ser encontrado “fazendo” (v.43). A demora do Senhor revela o caráter do servo. “Somos exortados, em vista da incerteza do tempo do fim, a vigiar. “Vigiar” não significa “olhar para” um evento, significa alerta espiritual e moral”[35].
As parábolas que decorrem do ensino de sua volta nos advertem para uma demora (e.g., virgens prudentes e imprudentes [Mt. 25.5]; talentos [Mt. 25.19] e dos servos [Mt. 24.45-51]). Soma-se a isso o fato de que alguns eventos preditos pelo Senhor deveriam acontecer: (1) João revela que Pedro deveria envelhecer (Jo. 21.18); (2) Os discípulos deveriam ser testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria e os confins da terra (At. 1.8). (3) A pregação do Evangelho em todo mundo (Mt. 24.14)[36]. (4) A destruição de Jerusalém (Lc. 21.20-24).
Em resposta a isso, alguns[37] têm assegurado que agora que todas essas predições foram cumpridas e que todo impedimento para a iminência ficou no primeiro século, podemos dizer, pois, hoje, que a volta de Cristo é iminente. Tal consideração não é suficiente, “pois o objetivo é determinar o que as declarações acerca da proximidade da parusia teriam significado para os que primeiro a ouviram[38].
A perspectiva pretribulacional deve tomar os sinais e orientações sobre a identidade do Iníquo simplesmente como “dados acadêmicos” já que os leitores não poderiam, de forma alguma, testemunhar a apostasia e o homem da iniquidade por serem eventos marcantes da Grande Tribulação.

3.1.2.3  Distinção Rígida entre Israel e a Igreja.

A distinção rígida entre Israel e Igreja não somente nos deixa sem muitas respostas como traz muitas complicações. Primeiro, na relação promessa-cumprimento. A promessa do derramar do Espírito foi dada originalmente a Israel; no entanto, cumprida na Igreja. O mesmo se pode dizer sobre a Nova Aliança.
Segundo, quanto à iminência. Segundo o PR.T, a iminência da Volta de Cristo é direcionada à Igreja. Porém, muitas referências à iminência se encontram no sermão profético do Senhor Jesus que, para os pré-tribulacionistas, é direcionada exclusivamente aos judeus.
Terceiro, a função de Apocalipse. Por que Apocalipse é um testemunho para a igreja (22.16) se ela não está envolvida nisso?

3.1.2.4  Omissões.

Acusar um texto de omissão pressupõe que sempre que um determinado tópico surgir, todos os elementos envolvidos devem estar presentes. E é sabido que todo pré-tribulacionista não negaria que nem toda referencia à Vinda de Cristo revela toda a complexidade do evento. Sobre 1 Tessalonicenses 4-5, Ladd argumenta nesses termos: “O único aspecto da parusia que Paulo tem em mente é a sua relação com os crentes. Nessa passagem ele não tem nada a dizer sobre sua relação com o mundo”[39]. Se não temos nada acerca do que antecede a vinda de Cristo (sinais e tribulação) também “nada é dito acerca do que acontece depois do encontro”[40].
Ainda pensando nas omissões, há várias passagens no Novo Testamento em que temos uma referência à ressurreição (Rm. 6.5; 8.11; 2Tm. 2.18; At. 17.18; 24.15; Hb. 6.2; 11.35) porém, sem uma indicação de tempo. Outras relacionam a ressurreição com a Vinda do Senhor (1Co. 15.23; 1Ts. 4.16), mas sem qualquer palavra sobre sua relação com a Grande Tribulação – seja antecipando-a ou seguindo-a. Assim, a acusação da ausência de sinais ou Tribulação em 1 Tessalonicenses 4-5 poderia ser explicada pela causa da escrita: explicar a posição dos mortos em Cristo no Advento do Senhor.
Quanto à ausência da tribulação em 1Tessalonicenses 4, Paulo não precisava falar, pois os Tessalonicenses estavam em tribulação (1.7; 3.7). “A persistente tendência dos pré-tribulacionistas a confinar a tribulação somente ao período climático de sete anos no fim da história distorce seriamente a perspectiva do Novo Testamento”[41]. No sermão escatológico de Cristo a tribulação é a marca de toda a história da Igreja. A distinção entre tribulação e Grande Tribulação está no alcance mundial e na figura do Anticristo.

3.1.2.5  As Inconsistências.

A primeira inconsistência só faz sentido se os eventos descritos em Apocalipse 19-20 indicarem uma clara progressão temporal – o que não é o caso. A prisão de Satanás (v.1) e a ressurreição (v.4) são introduzidas por um genérico kai,. Ambos os eventos são marcas do início de uma era de mil anos. Portanto, João não está preocupado em uma sequência. É mais razoável pensar que os eventos de Apocalipse 19.11-21 são paralelos a 20.1-6.
Além disso, 1 Tessalonicenses 4 nos revela que a Vinda de Cristo é marcada pela ressurreição dos santos. Segundo Ladd[42], Apocalipse 20.1-4 é a única passagem em que encontramos uma clara indicação do tempo da ressurreição. E ela se dá no final da Tribulação, na Vinda de Cristo em glória. Essa é a primeira de duas ressurreições. O PR.T deve assumir, portanto, três ressurreições: 1) no Arrebatamento pretribulacional, 2) Na Segunda Vinda postribulacional e 3) No final do milênio.
A segunda acusação é acerca do destino dos arrebatados e o destino dos que participam da Segunda Vinda. Os primeiros para o céu e os demais ficam na terra. A palavra “encontro” (v.17) aparece três vezes no Novo Testamento: Mateus 25.2 e Atos 28.15 e em ambos os casos trata-se de um encontro que segue um retorno. No entanto, o texto usado para dizer que o destino permanente dos arrebatados é o céu com Cristo é João 14.3. Enquanto 1 Tessalonicenses 4 revela a subida, João revela a permanência no céu.
Em primeiro lugar, a palavra “céu” nem sequer aparece no texto de João. A ênfase do texto está em ficar para sempre com o Senhor. Caso a ênfase esteja no “céu” e não na “presença de Cristo”, como explicar a permanência no céu somente por sete anos? Neste caso, a expressão “para sempre” perderia todo seu peso.


3.2  Mid-tribulacionimo.

3.2.1        Pontos Positivos.

Em primeiro lugar, a distinção entre Tribulação e Dia do Senhor é bem fundamentada textualmente. Segundo, o reconhecimento da Igreja como participante da Tribulação encontra menos dificuldades com o texto bíblico, especificamente o Sermão Escatológico de Cristo.

3.2.2        Pontos Negativos.

Em primeiro lugar, uma vinda em duas fases não é clara nas Escrituras. 2 Tessalonicenses 2 alista dois eventos que antecedem a Vinda de Cristo: a apostasia e o homem da iniquidade. É de grande importância que tais eventos são marcantes na última metade da Tribulação. O MD.T tem dificuldades aqui visto que, segundo sua visão, a Igreja é poupada no meio da tribulação. Se os eventos alistados por Paulo aos Tessalonicenses, bem como tudo revelado pelo apóstolo João no livro de Apocalipse, não poderiam ser observados, seriam informações somente de “interesse acadêmico”[43], o que não é o caso.

3.3  Pós-Tribulacionismo.

3.3.1        Pontos Positivos.

Erickson sintetiza bem a virtude do PO.T: “As interpretações pós-tribulacionistas das passagens chaves parecem se encaixar bem no sentido natural dessas passagens”[44]. Ou seja, o PO.T tem como virtude, a exegese. Seguem alguns exemplos:

3.3.1.1  Sinais e Iminência

A questão aqui é: os sinais não tornariam a vinda de Cristo previsível contrastando assim com as palavras do próprio Senhor que assegurou ignorância de Sua vinda? Sinais não são antagônicos e incompatíveis com ignorância?
Um ponto importante aqui é o tempo da Tribulação, a chamada Septuagésima Semana de Daniel. A questão de importância maior aqui o terminus ad quem revelado em Daniel 9.24. Para alguns, isso aconteceu no primeiro século.
Para aqueles que entendem que a Tribulação é a Septuagésima Semana ainda não cumprida e que, portanto, devem ter exatos sete anos; o próprio Senhor Jesus revela a resposta assegurando que os dias da Tribulação serão “abreviados” (kolobo,w – Mt. 24.22; Mc. 13.20). Dessa forma, esse período não pode ser calculado. Gundry sintetiza bem a relação entre os sinais, a incerteza da vinda e a abreviação da Tribulação:

A abreviação da tribulação habilita-nos a resolver a previsibilidade geral e a imprevisibilidade específica sem aniquilar as exortações à vigilância do seu contexto postribulacional e sem minimizar a função dos eventos sinalizadores recorrendo à visão histórica com seus caprichos. Devemos vigiar tanto porque não podemos saber exatamente quanto porque devemos estar alertas aos sinais que nos habilitam conhecer aproximadamente.[45]


O que fica claro no sermão é que sinais não diminuem nossa ignorância quanto à Volta de Cristo. Isso revela que os sinais não objetivam o conhecimento específico e exato do evento. “Sinais não enfraquecem a expectativa, eles estimulam”[46].

3.3.1.2  Tribulação, Ira de Deus e Dia do Senhor.

Quando pensamos em termos de Novo Testamento, das quarenta de cinco ocorrências da palavra qli/yij, somente cinco podem se referir à Tribulação: Marcos 13.19, 24; Mateus 24.21, 29 e Apocalipse 7.14, sendo que Romanos 2.9 e 2Tessalonicenses 1.6 são possibilidades. Nessas últimas, quem sofre a tribulação são os ímpios e o autor é Deus, mas nas primeiras são os santos que sofrem por meio de Satanás, o Anticristo e os ímpios.
Comentando 1 Tessalonicenses 1.10, Fee declara:

É interessante que a palavra ‘ira’ é usada exclusivamente no Novo Testamento para se referir ao julgamento final de Deus sobre os ímpios, e, portanto, nunca é usado para se referir a crentes, cuja porção presente é tribulação/sofrimento. Assim o foco aqui não está glória final dos crentes tessalonicenses, mas na destruição final dos seus oponentes […][47].

Mas não é assim na Tribulação descrita no livro de Apocalipse. João revela que a partir do romper dos selos e o tocar das trombetas Deus não visa à condenação, mas o arrependimento daqueles que são alvos de seus castigos. Não se pode, pois, entender que a Tribulação seja um período de condenação e/ ou ira somente. Há clara manifestação da misericórdia de Deus. Além disso, “nem todos os eventos são iniciativas diretas de Deus”[48].
Os julgamentos e a ira de Deus em Apocalipse são seletivos. Todos concordam que os santos da Tribulação (seja Israel ou a Igreja) serão protegidos da ira do Senhor. Ou seja, estarão na tribulação, mas não sofrerão a Ira de Deus. Segundo Gundry:

“[…] uma análise […] mostra que qumo,j atinge somente os ímpios (14.8 – A Babilônia; 14.10 – adoradores da besta; 14.19 – os exércitos no Armagedom; 15.1, 7; 16.1, 19 – os que habitam sobre a terra; 18.3 – os que se prostituíram com a Babilônia; 19.15 – os exércitos no Armagedom) […] A ovrgh, divina cai somente sobre os ímpios (Ap. 6.16, 17; 14.10; 16.19; 19.15)[49].

Em Apocalipse 18.4 temos: “Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos”.
Não há dúvidas de que a Ira Vindoura é derramada na Tribulação, mas igualar uma com a outra é um passo que Apocalipse não nos permite dar. A seletividade na aplicação da Ira do Senhor no período da Tribulação, portanto, nos impede de igualar Ira e Tribulação.
Por último, a Tribulação antecede ao Dia do Senhor. Como vimos, o Dia do Senhor é um dia tanto de salvação quanto de condenação. Tanto a Vinda do Senhor quanto o derramar da Sua ira se darão no final da Tribulação. Assim, a vinda do Senhor é o aspecto salvador do Dia do Senhor assim como a Ira, seu aspecto condenatório. Quanto ao Dia do Senhor e sua relação com a Ira e a Tribulação, a argumentação sobre o terminus a quo do Dia do Senhor tem mais amparo direto dos textos (cf. 2.3: 3-5§).

3.3.2        Pontos Negativos.

Primeiro, essa escola não demonstra uma preocupação pelos detalhes bem como deixa muitas perguntas sem resposta. Por exemplo, os que defendem a Tribulação como sendo a Septuagésima Semana de Daniel, precisam desenvolver melhor o tempo da última semana e sua relação com a expressão usada por Cristo sobre esses dias – “abreviados” (Mt. 24.22). Haveria Deus mudado? Primeiramente ele estabeleceu sete anos e depois “abreviou”. Não seria uma contradição em Deus?
Por outro lado, para aqueles que entendem que o período da Igreja é todo marcado por tribulação, há a necessidade de explicar melhor a Septuagésima Semana de Daniel.
Segundo, o PO.T também luta com o Milênio (terreno e não necessariamente literal em seu número de anos). Reconhece-se que haverá habitantes com corpos não transformados no Milênio. Há algumas questões que são respondidas com dificuldade: De onde vem esse grupo? Se eles irão ressuscitar no final, isso implica em condenação, já que eles farão parte da segunda ressurreição?


4 CONCLUSÃO

Todas as visões recém-referidas têm em comum o fato de fazer distinção entre a Segunda Vinda e o Arrebatamento[50]. O desacordo fica por conta da extensão do intervalo ou o propósito de cada evento. O PR.T defende sete anos de intervalo, enquanto o MD.T assegura três anos e meio. O PO.T, por sua vez, entende que os eventos são unitários e/ou imediatamente sequenciais por não haver interlúdio entre eles. Neste caso, a diferença fica por conta do propósito e efeitos distintos de cada evento.
Todas as visões apresentadas acima igualmente assumem o fato de que haverá santos e eleitos na Tribulação. A discordância fica entre PR.T´s de um lado, e PO.T e MD.T, de outro. Os primeiros entendem que esse período envolve três classes de pessoas: A nação de Israel, o mundo gentio pagão e os santos ou eleitos que viverão nesse período[51]. A Igreja, por sua vez, estará completamente ausente. As palavras de Cristo em Mateus 24, portanto, são dirigidas aos discípulos como representantes do povo judeu e não como a Igreja de Cristo.
Sobre a expressão “Dia do Senhor” é claro e incontestável a todos que se trata de “uma intervenção decisiva de Deus para julgamento e salvação[52]. A discordância fica no terminus a quo. O PR.T iguala os sete anos de Tribulação à Ira de Deus e, por conseguinte, ao Dia do Senhor. O MD.T iguala aos três anos e meio finais da Tribulação e o PO.T entende que essa é parte final da Tribulação.
Findamos com as antológicas palavras de Rupertus Meldenius: “In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas” (No essencial, unidade, nas coisas duvidosas, liberdade, em todas as coisas, caridade). Maranata!


5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] Uma insignificante parcela dos pré-tribulacionistas não lança mão desse pressuposto.
[2] RADMACHER, Earl D. The Imminent Return of the Lord. Em WILLIS, Wesley R. MASTER, John R. Issues in Dispensationalism. Chicago: Moody Press, 1994, p. 249 [itálico nosso].
[3] Ibid., p. 254.
[4] MACARTHUR, John. A Segunda Vinda de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 87.
[5] PENTECOST, Manual de Escatologia. São Paulo: Vida, 1999, p. 227.
[6] WOOD, Leon J. A Bíblia e os Eventos Futuros. São Paulo: Candeia, 1993, p. 57.
[7] WALVOORD, John F. The Blessed Hope and the Tribulation: A Biblical and Historical Study of Postribulacionism. Grand Rapids: Zondervan, 1976, p. 50.
[8] ERICKSON, Escatologia: a polêmica em torno do milênio. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 174.
[9] FEINBERG, Paul. The Case for Posttribulation Rapture Position, em ARCHER, Gleason (ed.) Three Views on the Rapture. Grand Rapids: Zondervan, 1984, p. 63.
[10] PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo: Vida, 1999, p. 228.
[11] WOOD, Leon. A Bíblia e os Eventos Futuros. p. 97.
[12] WALVOORD, John. F. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo: Vida, p. 423.
[13] Outros pré-tribulacionistas entendem que o Dia do Senhor começa com o Arrebatamento/início da tribulação são: PENTECOST e RYRIE, Charles. The Bible and Tomorrow’s News. Wheaton: Victor, 1969, p. 143.
[14] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 202-3.
[15] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 208.
[16] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation: a biblical examination of posttribulationism. Grand Rapids: Zondervan, 1973, p. 27-8.
[17] WALVOORD, John. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo: Vida, p. 427.
[18] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. em ARCHER, Gleason (ed.) Three Views on the Rapture. Grand Rapids: Zondervan, 1984, p 209. (itálico nosso).
[19] Para uma análise dos elementos comuns confira: WATERMAN, G. Henry Waterman. The Sources of Paul´s Teaching on the 2nd Coming of Christ in 1 and 2 Thessalonians. Journal of the Evangelical Theological Society. 1975, v. 18.2.
[20] LADD, The Blessed Hope: a biblical study of the second advent and the rapture. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[21] FEINBERG, Paul. The Case for Posttribulation Rapture Position, em ARCHER, Gleason. op. cit., p. 69.
[22] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 59.
[23] FEINBERG, Paul D. op. cit., p. 67.
[24] MOO, Douglas J. Response for Pretribulation, em ARCHER, Gleason. op. cit. p. 94.
[25] Ibid., p. 94, 95 (itálico nosso).
[26] Passagens paralelas citadas acima.
[27] MOO, Douglas J. op. cit., p. 95.
[28] Contra WALVOORD, John. Todas as Profecias da Bíblia. p. 423.
[29] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 92.
[30] Ibid.
[31] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 92.
[32] LADD, George Eldon. The Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956. Kindle edition.
[33] Ibid.
[34] LADD, George Eldon. The Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[35] Ibid.
[36] Pré-tribulacionistas entendem que a pregação do Evangelho está dentro do contexto da Tribulação.
[37] RADMACHER, Earl.  The Imminent Return of the Lord. Em WILLIS, Wesley R. MASTER, John R. Issues in Dispensationalism. p. 257. WALVOORD, John. F. The Rapture Question. Findlay: Dunham, 1957, p. 150-1.
[38] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. p. 210 [itálico nosso].
[39] LADD, George Eldon. The Blessed Hope.
[40] Ibid.
[41] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. p. 99.
[42] LADD, George Eldon. The Blessed Hope.
[43] LADD, George Eldon. The Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[44] ERICKSON, Millard J. Escatologia. p. 197.
[45] GUNDRY, The Church and the Tribulation. p. 42 (itálico nosso).
[46] Ibid., p. 43

[47] FEE, Gordon. The First and Second Letters to the Thessalonians. Grand Rapids: Eerdmans, 2009, (NICNT), p. 50. [itálico nosso]

[48] MOO, Douglas J. Response for Pretribulation. p. 88.
[49] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 48.
[50] Pós-tribulacionistas não costumam empregar o termo “arrebatamento”.
[51] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 156.
[52] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. p. 183. (itálico nosso).

Perfil

Minha foto
Rômulo Monteiro alcançou seu bacharel em Teologia (Seminário Batista do Cariri – Crato/CE) em 2001; concluiu seu mestrado em Estudos Bíblicos Exegéticos no Novo Testamento (Centro de Pós-graduação Andrew Jumper – São Paulo/SP) em 2014. De 2003 a 2015 ministrou várias disciplinas como grego bíblico e teologia bíblica em três seminários (SIBIMA, Seminário Bíblico Teológico do Ceará e Escola Charles Spurgeon). Hoje é professor do Instituto Aubrey Clark - Fortaleza/CE) e diretor do Instituto Bíblico Semear e Pastor da PIB de Aquiraz.-CE Casado com Franciane e pai de três filhos: Natanael, Heitor e Calebe.