Preservando a santidade na Igreja (última parte)

Leitura: 1Coríntios 5:9ss.

“…vos escrevi…”. A ordem de Paulo não era novidade para os coríntios. Eles já haviam sido exortados quanto a essa temática. Porque, então, esses irmãos não atenderam as instruções da carta anterior? O primeiro verso desse capítulo revela que o caso do homem incestuoso é resultado de outros casos de imoralidade. A causa da insensibilidade, neste verso específico, seria a indiferença para com a imoralidade (tratamos disso no primeiro artigo). Porque, então, deixaram chegar a esse ponto, já que Paulo os tinha exortado quanto à imoralidade?

Primeiro; fica claro que houve um mal entendido no tocante a primeira carta. No verso 11 Paulo explica o que realmente quis dizer naquela primeira correspondência. Ele faz questão de esclarecer o que deve ser feito e reforça declarando o que não quis dizer: não devem se associar com alguém que dizendo-se irmão vive em imoralidade. Paulo não proibiu o relacionamento entre o crente e o mundo. Sua proposta não foi ascética e/ou monástica. Seria, então, o mal entendido a explicação para o desprezo das primeiras palavras de Paulo? Penso que não. O texto nos oferece mais explicações para o desdém para com a orientação de Paulo na primeira carta.

Os primeiros capítulos dessa carta revelam uma divisão na igreja. Uma leitura rápida nos apresenta uma divisão gerada por preferências. Porém, esse é um lado da história. Sempre teremos preferências e não há nada de errado em tê-las. O caso aqui é que havia soberba “a favor de um em detrimento de outro” (4:6c). Não era o caso de preferência somente, era de depreciação dos demais. E o motor propulsor dessa postura era a “soberba” (gr. physioo). Nesse mesmo capítulo Paulo diz: “Alguns se ensoberbeceram” (vv. 18s).

O verso 2 do parágrafo em questão temos novamente a temática da “soberba”. A declaração é clara: Os irmãos de Corinto não se sensibilizaram quanto ao pecado do incesto por causa da soberba. No verso seis desse mesmo capítulo Paulo diz: Não é boa a vossa jactância. Essa abordagem (ou reconstrução) nos ajuda a entender porque os irmãos de Corinto não seguiram as instruções de Paulo: estavam cheios de si. Ser soberbo é o mesmo que “ter um conceito exagerado de si mesmo” (BDAG). Por isso, o desprezaram. Havia uma causa primária – ela era a raiz do problema: a soberba. A soberba os tornou insensíveis. Ela os impediu de considerar os conselhos de Paulo. O assunto de imoralidade, portanto, surge em um cenário maior – a soberba. Ela volta a tona nos capítulos 8-10. Lá o contexto é saber lidar com questões que a Bíblia não proíbe, porém não incentiva. Nesses casos o desafio é o “amor” em detrimento da “soberba” (cf. 8:1).

Eis aqui alguns desafios: a) Quando pensamos mais de si mesmos fechamos nosso coração para as verdades ditas por aqueles que consideramos inferiores; b) podemos amar mais as pessoas do que os princípios por elas apresentados mesmo que estes sejam verdadeiros; c) A rejeição das verdades ditas por pessoas que desprezamos pode ter conseqüências desastrosas como o quadro apresentado em Corinto; d) Devemos amar mais a verdade do que o veículo transmissor dela.

“…não vos associeis”. A expressão grega usada aqui é exclusiva das cartas paulinas. Das três ocorrências, duas estão nesse contexto; a outra se encontra em 2Ts. 3:14. A palavra “associar-se” é aplicada à “intimidade social”. O texto não responde a todas as nossas perguntas quanto à natureza desse desligamento. Não comer com essas pessoas significava o total desligamento? Significa que um irmão não poderia sequer visitar (ou ser visitado) pelo disciplinado ter uma refeição particular?

“comer…” aqui certamente não se refere exclusivamente à Ceia do Senhor. A expressão “nem ainda” não nos permite defender tal restrição. Judas 12 e outras fontes históricas nos informam das festas de “amor” (ou de fraternidade) muito comuns no primeiro século. Como a ênfase em todo capítulo é a reação da comunidade (social), talvez a exclusão no caso seja das reuniões ou das festas do amor (da comunidade). E quanto às relaçãoes pessoais? Reconhecemos que 2 Ts. 3:14 não é um paralelo exato, mas na exortação da “não associação” há espaço para “relações pessoais” com a ressalva de que seja com admoestação (convite a interromper uma conduta em curso).

Efésios 5:11: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as”.

Perfil

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Rômulo Monteiro alcançou seu bacharel em Teologia (Seminário Batista do Cariri – Crato/CE) em 2001; concluiu seu mestrado em Estudos Bíblicos Exegéticos no Novo Testamento (Centro de Pós-graduação Andrew Jumper – São Paulo/SP) em 2014. De 2003 a 2015 ministrou várias disciplinas como grego bíblico e teologia bíblica em três seminários (SIBIMA, Seminário Bíblico Teológico do Ceará e Escola Charles Spurgeon). Hoje é professor do Instituto Aubrey Clark - Fortaleza/CE) e diretor do Instituto Bíblico Semear e Pastor da PIB de Aquiraz.-CE Casado com Franciane e pai de três filhos: Natanael, Heitor e Calebe.